segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Análises eleitorais


Para não perder o bonde da segunda-feira pós-pleito, algumas considerações sobre o resultado dos sufrágios municipais...



O monstro petano


Em Minas, ainda que nem tudo esteja perdido, ficam cicatrizes e lições.


Depois de começar disparado na corrida do primeiro turno, Márcio Lacerda (PSB) – fruto da mais descabida dissimulação política nacional, a união de forças tucano-petista – chegou suando em bicas ao segundo turno, bem atrás do novato Quintão (PMDB). A parceria foi posta em xeque pelo eleitorado mineiro, o que fez o sangue-novo do PMDB, apoiado por um Hélio Costa que mira em 2010, ganhar espaço. Só que Lacerda conseguiu uma reidratação considerável no decorrer do segundo turno a ponto de vencer as eleições para a capital mineira com certa folga. Tudo certo? Não. O pleito belorizontino deixa algumas lições, a saber:


1) Aécio não tem tanto poder de Midas quanto se lhe creditava. (O que vale também para o PT em Minas e Lula no Brasil): A criatura petana que o governador e o prefeito petista de BH, Fernando Pimentel, forjaram, naquela que foi a primeira das parcerias dos dois maiores e mais antagônicos partidos nacionais, não virou ouro. No máximo latão, ao gerar dúvidas entre o tradicionalmente crítico eleitorado mineiro.


2) Alguém tem dúvidas do escárnio que foi essa aproximação??!! Parceria oportunista e desrespeitosa, que no frigir dos ovos talvez só perda em fisiologismo para Eduardo ex-PSDB Paes sendo apoiado pelo PMDB-PT no Rio. Sem contar as dezenas de miscigenações contraditórias do gênero Brasil afora, em âmbitos quaisquer que sejam, municipais, estaduais ou federais. Alguém ainda vai querer me falar de ideologia partidária?



Marta sai chamuscada. Kassab cacifa Serra.


A forte rejeição de Marta em São Paulo não deixou a candidatura da ex-prefeita ventilar. Dona Marta chegou a seu teto na capital paulista. Teto, aliás, que está agora notadamente mais baixo. Os resultados indicam que a petista perdeu 287 mil votos de seu eleitorado em relação ao segundo turno de 2004, um encolhimento da ordem de 6%. O atual prefeito capitulou para si votos não só de Alckmin, como esperado, mas de praticamente todos os outros candidatos derrotados no primeiro turno.


O que isso significa? Que a reeleição de Kassab se deve menos a um reconhecimento de sua administração e mais a uma rejeição martista, que ganhou ainda mais robustez nessas eleições, especialmente com o imbróglio da malfadada propaganda que indagava a vida pessoal do prefeito. Definitivamente, o tiro no pé da campanha do PT. Mas merece créditos também a mídia descalibrada e tendenciosa, que mais uma vez colaborou sensivelmente para a desinformação eleitoral.


Quem mais ganha é mesmo Serra. A vitória do filhote Kassab, continuísta de sua administração, e a desidratação de Aécio no ninho tucano aumentam seu passe para o pleito presidencial de 2010. Kassab se fortaleceu, mas ainda não tem músculo para o governo paulista daqui a dois anos, o que abre vácuo para a reabilitação de um agora fracassado Alckmin.



A vitória do fisiologismo, a derrota da moral


Os cariocas perderam uma grande oportunidade de frear o fisiologismo e administração por interesses. A eleição de Eduardo Paes (nesse momento no PMDB, vai saber aonde amanhã...), tal qual a de Lacerda em BH, é lamentável do ponto de vista da coerência política. Paes já foi tucano aguerrido, época de mensalão, e chegou acusar o presidente Lula de participação no suposto esquema. Foi para o sem-face PMDB, partido da base aliada e de seu agora padrinho político Sérgio Cabral, um dos principais aliados do presidente, pediu desculpas para Lula, disse que se equivocara, ganhou indulto, apoio e pronto, ficou por isso mesmo, beijo, me liga. É isso aí. Esmagaram a ética e a decência despudoradamente.


Gabeira, dos poucos candidatos nessas eleições com convicções ideológicas claras e propostas duras e ousadas para uma cidade rachada como o Rio, perdeu ante uma criminosa – sim, criminosa! – campanha peemedebista, que dentre outras coisas o classificou de maconheiro, defensor dos cafetões, terrorista, anti-suburbano, usou de panfletos apócrifos, e por aí vai...

Como bem disse Demétrio Magnoli, a campanha no Rio deixa a campanha “homofóbica” de São Paulo no chinelo.


Detalhe, retirado do blog do Noblat, a título de remorso: Paes derrotou Gabeira por 55 mil votos. Os cariocas que deixaram de votar somaram 923 mil.


Se arrependimento matasse...



Em Salvador...


ACM Neto foi derrotado. No primeiro turno. ACM Neto, derrotado. É o carlismo em vias de extinção. Precisa dizer mais alguma coisa? João Henrique e Walter Pinheiro, PMDB e PT, eram xixi e urina mesmo...


Boa tarde.



Um comentário:

  1. Concordo com a análise, principalmente em relação ao papel da mídia que novamente escolheu um lado para "torcer". Gabeira e Kassab receberam um tratamento dos veículos desproporcional. Isso foi observado até pelo ombudsman da Folha. Outra coisa, é preciso ir com calma quando se aponta o governador Serra como grande favorito para 2010. Ele perdeu feio nas cidades da grande SP. O PT ainda não está morto no estado. Seu cacife político é limitado no norte e nordeste. Além disso, Aécio Neves, mineiro, com boas relações com Lula, vai comendo pelas beiradas.....Enquanto isso, é aguardar a crise passar e o Obama chegar à Casa Branca

    Abs

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